«NÃO HÁ ESCUTAS ILEGAIS»


TODOS SOB ESCUTA


Ouvindo e lendo o que, nos últimos dias, tem sido dito e escrito sobre:

- escutas telefónicas legais e ilegais, feitas pelas várias polícias, pelos serviços secretos, por detectives particulares e por particulares anónimos;

- os múltiplos e sofisticados equipamentos de escuta à disposição de qualquer pessoa que tenha umas escassas centenas de euros para os comprar;

- a possibilidade real de qualquer denós ser escutado, não apenas nas conversas telefónicas, mas também no emprego; no autocarro; no carro; no encontro de rua; no cinema; no teatro; no café; no bar; no restaurante; na (a partir de agora) mal chamada nossa casa - onde podemos ser escutados, a) - por um escutador situado no passeio em frente e devidamente apetrechado para o efeito; ou, b) - por engenhos de escuta (lá engenhosamente introduzidos quando estamos ausentes) colocados num candeeiro, na mesa, na secretária, na casa de banho - e, obviamente, no quarto e na cama, se se tratar de um écoutoyeur...

dizia eu, então, que ouvindo e lendo o que, nos últimos dias, tem sido dito e escrito sobre esta matéria, só podemos concluir que, em princípio, estamos todos sob escuta.

O que nos vale é que, segundo garante, repetitivo e peremptório, o ministro da Justiça, «não há escutas ilegais». Assim, todos podemos dormir tranquilos.
Escutados, mas tranquilos. Porque escutados legalmente.

Uma relembrança: quando se iniciou a era do telefone em Portugal - corria o ano de 1936, ano em que Salazar completava o processo de fascização do Estado - a companhia dos telefones fez uma campanha de publicidade na imprensa, incentivando as pessoas a adquirirem o, então, novo engenho. A campanha constava de um anúncio no qual podia ver-se um rapaz e uma rapariga, sorridentes, cada qual com o seu auscultador bem juntinho ao respectivo ouvido, e a legenda: «São felizes, porque falam e ninguém os ouve, vantagens de quem tem telefone».
E logo houve quem comentasse o anúncio nestes termos: «Falam e ninguém os ouve?, então, mais dia menos dia, a PVDE arranja forma de os ouvir, se é que ainda não o fez». Bruxo.

É claro que estamos a falar - sempre, sempre, senhor ministro - de escutas legais. Nem podia ser de outra forma: nas democracias em que, ao longo dos anos, temos vivido, «não há escutas ilegais». Como V. Exa. sabe.


3 comentários:

Anónimo disse...

Já agora, acrescenta aí que o senhor José Sócrates já tem um aparelho que impede que o seu telemóvel seja escutado. Homem prevenido vale por dois...

samuel disse...

Caro anónimo
Mas para que raio serviria escutar o sr. José Sócrates? Para confirmar que mente muito? Isso já sabemos sem aparelho nenhum...

GR disse...

Alberto Costa, uma figurinha sinistramente ridícula.
Reli esta semana o livro”Fahrenheit 451” de de Ray Bradbury. Estremeci! quando identifiquei a ficção do romance com a realidade da política de Sócrates! A sociedade dominada pelas novas tecnologias (não visíveis), a restrição total da liberdade, sobretudo à privacidade, o “Olho” tudo observa e escuta, com tal descrição que todos têm medo. A desconfiança instala-se em todos os lugares, pessoas, o mal-estar vai crescendo.
As escutas, tal como o ministro podem ser legais, porém muito nocivas!

GR