POEMA

CICLOS EVOLUTIVOS


No início,
eu queria um instante.
A flor.

Depois,
nem a eternidade me bastava.
E desejava a vertigem
do incêndio partilhado.
O fruto.

Agora,
quero apenas
o que havia antes de haver vida.
A semente.


Mia Couto

6 comentários:

Maria disse...

Que lindo.....
A ternura com que o Mia Couto escreve....
Obrigada.

Beijo

Ana Maria Teixeira disse...

Para ti Fernando Samuel com um grande abraço!

COMPANHEIROS

Quero
escrever-me de homens
quero
calçar-me de terra
quero ser
a estrada marinha
que prossegue depois do último caminho

e quando ficar sem mim
não terei escrito
senão por vós
irmãos de um sonho
por vós
que não sereis derrotados

deixo
a paciência dos rios
a idade dos livros

mas não lego
mapa nem bússola
porque andei sempre
sobre meus pés
e doeu-me
às vezes
viver
hei-de inventar
um verso que vos faça justiça

por ora
basta-me o arco-íris

em que vos sonho
basta-te saber que morreis demasiado
por viverdes de menos
mas que permaneceis sem preço
Companheiros

Mia Couto

Fernando Samuel disse...

maria: e a ternura é, também, uma componente do nosso ideal, não é?
Um beijo amigo.

ana maria teixeira:obrigado, Ana, por este belíssimo poema. Um beijo amigo.

samuel disse...

Bonito poema!
Parece-me muito adequado para dedicar à Ivone...
Acho que nem o Mia nem tu se opôem.

Abraço.

Anónimo disse...

Com poesia também se faz a Revolução.

Fernando Samuel disse...

samuel: agora que me dizes isso, é bem provável que eu tenha escolhido este poema a pensar na Ivone... e, há coisa de duas horas, no Alto de S. João, disse-lhe que este poema lhe é dedicado por NÓS...
Um abraço amigo.

antuã: a poesia é uma arma, sabemo-lo há nuito tempo.
Abraço amigo.