POEMA

Neste ano de 1962
primeiro de Maio
ao começo da noite
podemos finalmente olhar no espelho a nossa imagem
sem temor nem vergonha

Na solidão do quarto meu Amor
podemos pela primeira vez
deixar de recear futuros julgamentos
e as perguntas silenciosas nos olhos dos vindouros
esquecer a humilhação o insulto sem resposta
que foi o nosso pão quotidiano e áspero

Agora podemos ser de novo homens
livres ainda que presos
mastigando a comida sem o sabor a lágrimas
antes com o sal da esperança
merecido tempero paga justa da luta

Renegamos o passado maculado de angústias
esquecemos as pequenas diárias covardias
os negócios onde tudo se perde e até a honra

Neste primeiro de Maio de 1962
podemos finalmente sorrir sem amargura

Daniel Filipe
(«Pátria, lugar de exílio»)

2 comentários:

GR disse...

Linda, a poesia de combate de Daniel Filipe!

GR

Fernando Samuel disse...

gr: aquele 1º de maio de 62 foi o retomar da luta com a classe operária na vanguarda...