POEMA

NÃO ME PEÇAM RAZÕES


Não me peçam razões, que não as tenho,
ou darei quantas queiram: bem sabemos
que razões são palavras, todas nascem
da mansa hipocrisia que aprendemos.

Não me peçam razões por que se entenda
a força de maré que me enche o peito,
este estar mal no mundo e nesta lei:
não fiz a lei e o mundo não o aceito.

Não me peçam razões, ou que as desculpe,
deste modo de amar e destruir:
quando a noite é de mais é que amanhece
a cor de primavera que há-de vir.

José Saramago

5 comentários:

Anónimo disse...

Belo poema, de esperança no futuro, que tarda em chegar, mas a luta fará encortar a distância!

XICA disse...

Um dos meus preferidos, excelente.

Maria disse...

É, só, mais um belo poema que escolheste...
Obrigada

Um beijo

samuel disse...

"este estar mal no mundo e nesta lei:
não fiz a lei e o mundo não o aceito."

...mas querendo mudá-lo. Aí está a grande diferença...

Fernando Samuel disse...

poesianopopular: é na luta que está o segredo...
Um abraço.

xica: e também meu...
Um beijo.

maria: um beijo grande.

samuel: a diferença essencial, de facto...
Um abraço.