MODERNIZAÇÃO

Estas cerimónias de tomada de posse dos governos são iguais há 33 anos.
Iguais em tudo: nos figurantes, nas poses dos empossados, nos risos, sorrisos e risinhos inter-ministeriais, nos discursos, em tudo.
É claro que os figurantes de ontem não eram exactamente os mesmos que em 1976, naquele mesmo local, juraram essas coisas todas a que o protocolo obriga.
Mas eram da família, dessa grandecíssima família da política de direita que, de há 33 anos a esta parte, tem vindo a destruir a mais progressista e mais avançada democracia alguma vez existente em Portugal: a Democracia de Abril.

Lá estavam todos, então - por «todos» entenda-se: os que, por efeito de uma alternância meticulosamente armadilhada, cumprem o actual turno de serviço à política de direita.
E os discursos foram muito lidos, ouvidos e vistos: os jornais escreveram, as rádios falaram, as televisões mostraram - enquanto os analistas analisaram, os comentadores comentaram, os politólogos politologaram, etc, etc.

Cavaco Silva, pernóstico até dizer chega, garantiu «lealdade institucional» ao Governo e sentenciou que «o nosso futuro colectivo é uma responsabilidade de todos» - por «todos» entenda-se: os que lá estavam mais os que aguardam a hora de cumprir o turno de serviço que lhes compete.

José Sócrates, exuberante, informou sobre as suas três grandes prioridades governativas - «combate à crise, modernização e justiça social» - sendo óbvio que a «modernização» é a sua preferida.
E a verdade é que, antes mesmo de tomar posse, o Governo de Sócrates já andava a «modernizar» por tudo quanto é sítio: na Quimonda, na Delphi, na Covina, no «congelamento de salários» proposto pelo inefável Constâncio, no congelamento do salário mínimo disparado pelo boss Van Zeller - e muitas outras semelhantes «modernizações».

O que não surpreende, sabendo-se que a «modernização» é a pedra de toque da vida, da acção, da prática, da postura do actual primeiro-ministro - e de tal forma assim é que bem pode dizer-se que, ao contrário dos simples mortais que nasceram de parto, José Sócrates chegou de e-mail...

13 comentários:

LGF Lizard disse...

É mais do que evidente que a primeira força política teria de formar governo. Ou queriam que fosse a quinta força política, que nem chega aos 8% de votantes?

Op! disse...

E a modernização continua pelo ensino, pela saúde pela segurança social...
É estranho como estas politicas modernas soam a tão antigo, e felizmente estamos cá para as combater até ao fim, quer queiram eles quer não, não nos calaremos nem cruzamos os braços perante as injustiças.

GR disse...

O governo logo após a tomada de posse tirou a pele de cordeiro, mostrando a sua verdadeira natureza, um predador sem escrúpulos.
Destas três grandes empresas ficarão centenas de trabalhadores desempregados, juntando as respectivas famílias, milhares de pessoas sofrerão. Sem emprego, sem dinheiro, alguns sem idade para um novo emprego, a miséria social que Cavaco e Sócrates tanto apregoaram nos discursos, foi mais uma farsa.
Para este governo os desempregados, reformados, os trabalhadores em geral não passam de “povão”.
Duras lutas se aproximam.

bjs,

GR

salvoconduto disse...

José Sócrates chegou de e-mail? Ainda bem que tenho um filtro anti-spam.

Maria disse...

Foi uma tomada de posse repetida de tantas outras. Discursos iguais a tantos outros. A política, de direita, vai ser a mesma.
E de repente volta um apetite: emigrar... sim, eu sei que a luta é aqui. E é aqui que vamos continuar (foi só um apetite...)

Quando vamos às migas?

Um beijo grande

samuel disse...

... e com a profundidade e brilho literário de um SMS.

Abraço.

Hilário disse...

A modernização de José Socrates é a continuação de mais desemprego, menos salários e mais precariedade.

A Luta Continua!

Um Abraço

svasconcelos disse...

A insensibililadade com que estes títeres determinam o destino de milhares de pessoas, devia ser punida por lei! Para quando a imputação dos autores de políticas irresponsáveis?! 33 anos é demais!
beijos,

svasconcelos disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Manuel Rodrigues disse...

Estou inteiramente de acordo. Este homem foi predestinado a fazer a modernização deste país. Parafraseando Brecht,sem ele (e o seu Governo) as fábricas deixariam de funcionar e o trigo cresceria de raízes para cima. Sem os milagrosos magalhães, as escolas encerrariam sem apelo nem agravo; sem as parcerias público-privadas (tendencialmente mais privadas do que públicas), os hospitais entrariam em irremediável colapso. Sem o simplex, o PRACE, a mobilidade especial, o Código do Trabalho, como poderia a exploração "prosseguir a passo firme"?
JS é muito mais do que um primeiro-ministro. Ele é o mais moderno (pós-moderno) servidor do capital.
Um abraço

Antuã disse...

Modernização e Inovação são as duas formas de dizer nada.

Ana Camarra disse...

Não sejas assim!
Já não é o mesmo senhor baixinho de penteado lambido com fixador que com a sua vozinha irritante também fazia o protocolo no tempo da outra senhora...

Fernando Samuel disse...

LGF LIzard: Pois.

Membro do Povo: de facto, nada há de mais moderno do que a luta de massas.
Um abraço.

GR: e só assim, com a luta, daremos a volta a isto...
Um beijo.

salvo conduto: homem prevenido...
Um abraço.

Maria: perguntas bem... temos que combinar uma ida às migas...
Um beijo grande.

samuel: nele tudo é profundo e brilhante...
m abraço.

Hilário: a velhíssima modernização ao serviço do grande capital...
Um abraço.

smvasconcelos: seria assim numa verdadeira democracia...
Um beijo.

Manuel Rodrigues: definição perfeita: «o mais moderno (pós- moderno) servidor do capital».
Um abraço.

Antuã: o velho paleio...
Um abraço.

Ana Camarra: tens razão: esse mudou...
Um beijo.