UMA, DUAS, TRÊS

O talento de Eça criou uma galeria de personagens que, mais de um século depois, tornados reais, andam por aí ocupando importantes cargos no governos europeu, central, regional e local; na comunicação social; nos meios literários...

Quem frequente regularmente os média dominantes, aí encontra, todos os dias, o conselheiro Acácio, o Alípio Abranhos (e onde há um Abranhos há sempre um Z. Zagalo, biógrafo...), o Raposão, o Dâmaso Salcede, o Palma Cavalão, etc, etc, etc. - e até, quando as circunstâncias o impõem, o Libaninho: lembram-se dele?: beatinho até dizer chega, que sabia de cor «o hinozinho de Pio IX», que papava missinhas de manhã, à tarde e à noite: «Ai, filhos! Desculpem-me, demorei-me mais um bocadinho. Passei pela igreja de Nossa Senhora da Ermida, estava o padre Nunes a dizer uma missa de intenção. Ai, filhos! Papei-a logo, venho mesmo consoladinho»...

Tudo isto me tem assomado à memória à medida que tenho vindo a ler as notícias que todos os dias são publicadas sobre a visita de Bento XVI a Portugal e as reacções que tal visita, ainda a mais de um mês de distância, tem vindo a provocar - reacções que, ou muito me engano (e bem desejaria enganar-me) ou tendem a desembocar, mais dia menos dia, numa verdadeira histeria colectiva.

Veja-se a competição já em curso sobre a presença nas missas que o Papa celebrará: há quem, triunfantemente, garanta presença nas três missas; há quem, por «razões incontornáveis», só possa assistir a uma - ou a duas; e há quem ainda não saiba, ou não quer que se saiba, como vai ser...

Aguarda-se, com expectativa, o resultado da competição entre o Presidente da República e o primeiro-ministro.
Tanto para o PR (com eleições à porta), como para o p-m (que, mais tarde ou mais cedo, irá a votos), a bênção de Sua Santidade é uma questão crucial - e nada melhor para a obter do que, se possível de joelhos, ouvir a celebração papal.

Para já, o PR vai à frente: diz Z. Zagalo que Cavaco Silva já garantiu a presidencial presença em duas das missas (a de Lisboa e a de Fátima) e está a envidar todos os esforços para que, na sua cerrada agenda, se abra, luminoso, o necessário espaço para a celebração do Porto - tudo indicando que vai papar as três, para seu proveito e consolo.

Quanto a José Sócrates, mantém silêncio sobre o assunto - talvez porque se está a guardar para um fulminante ataque final (semelhante ao PEC com o qual se prepara para fulminar a imensa maioria dos portugueses).
Mas, garante Z Zagalo, é mais do que certo que o menino de ouro papará uma, talvez duas, quiçá as três missas papais - igualmente para seu consolo e proveito.

A ver vamos. Mas lá que a compita promete, promete...

13 comentários:

poesianopopular disse...

Com tanta sofreguidão e emoção, queira deusje que não apanhem uma indigestãoje!
Abraço

samuel disse...

Talvez consiga um lugar nas três... ao lado do papa, vestido de rendinhas e de asperge na mão...

Abraço.

Graciete Rietsch disse...

Quem não vai a nenhuma sou eu.
Lamento profundamente que um país laico faça tal alarido à volta do senhor máximo de uma religião.
Abraços.

Antuã disse...

E quem é o Raposão?!...

João Henrique disse...

Eu penso que o resultado final dos dois, será de facto, um empate entre ambos no papel do Libaninho.

Um abraço.

albano ribeiro disse...

Como é possível ?!! "manholas" cerejeira,passados tantos anos aqui há concorrência a valer,para papanço das hòstias.
um abraço
Albano

Anónimo disse...

eu dou as hóstias!
do vale com vigor.

Anónimo disse...

Ainda bem que avisam dessa eminência. De outro modo não saberia. O Saramago é que poderia retratar bem tais meandros e elocubrações divinais.
Só, quiçá, daqui a seis meses talvez soubesse desses acontecimentos no futuro, quando folheasse uma dessas doentias revistas, já gasta, duma mesa de sala de espera de consultório.
Por vezes alguma ignorância também nos poupa.
Isto sem perder o carinho pela cultura, a boa palavra, o doce, a obra e os seus obreiros genuínos tantas vezes omitidos.
MR

Maria disse...

Que post delicioso...
Nessa altura podíamos 'invadir' o Zambujal, que te parece? Um pãozinho e um queijito... marchava, com o tinto!

Apropósito de 'papar', acabei de papar um pacote de amêndoas... das moles, de Coimbra. Estou enjoada, claro. Ai, o corpo e o sangue...

Um beijo grande
:))

Antonio Lains Galamba disse...

é a bucha papal!!! ahahahahahaha
hahahahhah

abraço

svasconcelos disse...

a promiscuidade entre a igreja e a política além de repugnante é ultrajante à inteligência dos povos.
Beijo.

Fernando Samuel disse...

poesianopopular: deus lhes valha...
Um abraço.

samuel: pago para ver...
Um abraço.

Graciete Rietsch: mas esta religião é (sempre foi) muito especial...
Um beijo.

Antuã: quem é que há-de ser?...
Um abraço.

joão l.henrique: e é, concerteza, um resultado justo...
Um abraço.

albano ribeiro: vão ser todos a querer chegar primeiro e mais próximo de SS...
Um abraço.

do vale: e é um bom contributo...
Um abraço.

MR: realmente, há coisas que é melhor nem termos conhecimento delas...
um abraço.

Maria: é uma boa ideia (a de invadir o Zambujal) - e as amêndoas de coimbra também não devem ser nada más...
Um beijo grande.

Antonio Lains Galamba: ahahahah...
Abração.

smvasconcelos: mais do que isso, até...
Um beijo.

do zambujal disse...

"... papar as três missas..."
(Genial a formulação!)

Papar as três missas será, para quem o conseguir, a tripla no totobola, o euromilhões só para um, o "must of", o "pleno", o orgasmo celeste.

Abração