POEMA

ILHA DE NOME SANTO


Terra!
das plantações de cacau de copra de café de coco a perderem-se de vista
que vão morrer numa quebra ritmada
num mar azul como o céu mais gostoso de todo o mundo!

Onde o sol bem amarelo bem redondo incendeia as costas
dos homens das mulheres agitando-lhes os nervos
num cadenciar mágico mas humano: capinar sonhar plantar!

Onde as mulheres que têm os braços mais grossos e mais tortos que ocá
são negras como o café que colhem depois de torrado
trabalham ao lado de seu homem numa ajuda toda de músculos!

Onde os moleques vêem seus pais no ritmo diário
deixando correr gostosamente pelo queixo quente
o sabor e a seiva húmida do sàfu maduro!

Onde nas noites estreladas
e uma lua redonda como um fruto
os negros as sangués os moleques os caçô
- mesmo o branco e a sua mulata -
vêm no socopé de uma sinhá
ouvir um malandro tocando no violão
cantando ao violão!

E o som fica ecoando pelo mar...

Onde apesar da pólvora que o branco trouxe num navio escuro
onde apesar da espada e duma bandeira multicor
dizerem poder dizerem força dizerem império branco
é terra de homens cantando vida que os brancos jamais souberam
é terra do sàfu do socopé da mulata
- ui! fetiche di branco! -
é terra do negro leal e forte e valente que nenhum outro!


Francisco José Tenreiro

(«Ilha de Nome Santo»)

5 comentários:

Nelson Ricardo disse...

Todas as terras são terras de Paz e Trabalho. Não precisam de ser de miséria e fome. Isso depende das vontades dos homens. E quando os homens quiserem a derradeira Paz, baseada na prosperidade do Trabalho, eis que o Mundo começará a sarar as feridas que comporta do passado.

Um Abraço.

Graciete Rietsch disse...

Não sei comentar este poema! É tão lindo, tão lindo, tão lindo!!!!!!
E a violência do colonialismo também lá está!!!!

Um beijo.

Maria disse...

Belíssimo poema!
Sem mais comentários.

Um beijo grande.

samuel disse...

Encontrar assim a beleza e um tão grande espaço para a bondade, num tempo e num lugar como este... é a força que ainda há-de salvar a humanidade.

Abraço.

Fernando Samuel disse...

Nelson Ricardo; ou seja, quando o capitalismo for substituído pelo socialismo.
Um abraço.

Graciete Rietsch: a bem dizer... está lá tudo...
Um beijo.

Maria comentários para quê, não é?
Um beijo grande.

samuel: e que força essa!
Um abraço.