POEMA

A MENINA


Sou eu que bato às portas,
às portas, umas após outras.
Sou invisível aos vossos olhos.
Os mortos são invisíveis.

Morta em Hiroxima
há mais de dez anos,
sou uma menina de
sete anos.
As crianças mortas não crescem.

Primeiro arderam os meus cabelos,
também os olhos arderam, ficaram calcinados.
Num instante fiquei reduzida a um punhado de cinzas
que se espalharam
ao vento.

No que diz respeito
a mim,
nada vos imploro:
a criança que ardeu como papel
não podia comer, nem sequer bombons.

Bato à vossa porta, tio, tia:
uma assinatura.
Não matem as crianças
e deixem-nas também
comer bombons.


Nâzim Hikmet

7 comentários:

Maria disse...

Pungente. Belíssimo. Tristíssimo.

Um beijo grande.

Justine disse...

A violência e a ternura - como consegue o poeta ´harmonizá-las??

samuel disse...

O que mais dói é que podia ter sido escrito hoje!
Bem mais certo do que as crianças mortas serem invisíveis e não crescerem, é o facto de os assassinos não terem emenda...

Abraço.

Graciete Rietsch disse...

Uma terrível denúncia que também se aplica aos dias de hoje.
Lindo e triste.

Um beijo.

GR disse...

Um actual poema.
Doi, comove, mas é muito lindo.

Bjs,

Gr

Anjos disse...

E nós, tios e tias das crianças do mundo, assinamos... e a nossa maçã vermelha, cada vez mais apertada, dói, dói... todos os dias há mais "estrelinhas" que, empunhanho as suas bandeiras, nos acenam do Céu.

Será que algum dia podemos distribui-lhes bonbons e vê-las sorrir na Terra?

Fernando Samuel disse...

Maria: tudo isso...
Um beijo grande.

Justine: os Poetas conseguem tudo...
Um beijo.

samuel: ... e continuarem a assassinar, todos os dias, homnes, mulheres e craianças inocentes.
Um abraço.

Graciete Rietsch: as crianças de Hiroshima continuam a precisar de nós...
Um beijo.

GR: é belíssimo.
Um beijo.

Anjos: para isso lutamos - e lá chegaremos.
Um abraço.