POEMA

OFÍCIO DE TREVAS
(Poema XXIV)


É preciso que tragam a bandeira
É preciso que alguém vá até ao fim da noite
e desenterre a bandeira
Se já não tiver mãos
que rasgue a terra com os dentes
mas que traga a bandeira
Se já não tiver dentes
que afunde os olhos nessa terra
e lhe arranque a bandeira
que nela está sepulta
É preciso que os tambores anunciem a chegada da bandeira

Se não houver tambores
que os mortos se alevantem
e façam rufar seus ossos
em sol altíssimo à chegada da bandeira

Iluminem, Iluminem, Iluminem o caminho da bandeira
Se as nuvens de baionetas forem trevas no caminho da bandeira
que incendeiem a noite com as pedras da rua
mas que haja luz à passagem da bandeira
para que os olhos vazados vejam a bandeira
para que as bocas rasgadas cantem a bandeira
para que os ferros caiam à passagem da bandeira.


Carlos Maria de Araújo

3 comentários:

samuel disse...

Por vezes são necessárias estas imagens desmedidas... para agitar o torpor, para tornar o sofá, subitamente, desconfortável... para tornar o sossego insuportável.

Abraço.

Graciete Rietsch disse...

É a bandeira da nossa esperança. É preciso erguê-la cadavez mais alto.

Um beijo.

Fernando Samuel disse...

samuel: para nos fazer levantar e lutar com mais força...
Um abraço.

Graciete Rietsch: é a nossa Bandeira...
Um beijo.