POEMA

A BOMBA


O primeiro sopro arrancou-lhe a roupa;
o imediato levou também a carne.
Ao longo da rua
durante alguns segundos correu o esqueleto.
Mas a rua já não estava,
estava toda no ar;
de lá caíam bocados de prédios, bocados
de crianças, restos de cadilaques...
O esqueleto não compreendia sozinho
aquela situação:
deixou-se tombar sobre algumas pedras radioactivas
e permitiu na queda o extravio de alguns ossos.

(Caso curioso: o coração
pulsou ainda três ou quatro vezes
entre o gradeamento das costelas.)


Egito Gonçalves

5 comentários:

samuel disse...

...mas a memória é curta!
E, na verdade, enquanto vai acontecendo aos outros... folgam as costas.

Abraço.

Graciete Rietsch disse...

Podem matar as pessoas, mas não matam os ideais.
Eles manter-se-ão muito para além do terrorismo contra eles desencadeado.

Um beijo.

gina henrique disse...

Sempre que um esqueleto tombar haverá pelo menos um coração a pulsar e outros tantos a avivar a memória de quem não pode ou quer lembrar...
Abraço

Justine disse...

Voilentíssimo, para acordar conscièncias!

Fernando Samuel disse...

samuel: até um dia...
Um abraço.

Graciete Rietsch: grande verdade.
Um beijo.

gina henrique: e nisso reside também a nossa força.
Abraço.

Justine: e talvez acorde algumas...
Um beijo.