POEMA

AS VOZES


o senhor administrador dentro do carro
olha de sobrolho franzido
a manifestação em frente à sede da empresa

a polícia está lá
para evitar que a gentalha se aproxime
e o porteiro
perfilado abre-lhe a porta

o senhor administrador
esfrega as mãos
sorri à secretária
e pergunta
se as cartas para os seus pares
foram enviadas e se as reserva das suites
estão garantidas

«custa um milhão» - esclarece ela solícita -
não há problema - diz ele - são personalidades políticos
jornalistas empresários nossos amigos
mas aquela gente à porta ó minha querida
já disse alguma coisa ao ministro
ligue-lhe e passe-me o telefone»

pouco depois correrias gritos tiros

e alguns dias mais tarde o
ministro - mas meu caro não sei o que lhe hei-de dizer
eles não desistem

e na manhá levantada reerguem-se as vozes uma
canção um protesto a vida


José Vultos Sequeira

2 comentários:

svasconcelos disse...

Poema tão a propósito face às lutas que aí vêm...E tão ilustrativo da exploração capitalista.

beijo,

Justine disse...

Não conhecia este poeta!Obrigada, vou saber mais coisas dele:-)))